Muito antes da cannabis ser vista como tabu, ilegal ou moda, ela já fazia parte da vida humana. Não como rebeldia, mas como sabedoria ancestral. A história do “primeiro baseado” é, na verdade, a história de uma conexão milenar entre o ser humano e uma planta que moldou culturas, curou doenças e expandiu consciências.
Mas quando e onde começou tudo isso? Quem foi a primeira pessoa que acendeu um baseado — ainda que esse nome não existisse — e inalou a fumaça da cannabis? E o que a ciência tem a nos dizer sobre esse momento histórico?
As evidências mais antigas do uso da cannabis remontam a cerca de 10 mil anos atrás, na região da Ásia Central, mais especificamente nas planícies da China Ocidental e Mongólia. Inicialmente, ela era cultivada principalmente por suas fibras (para cordas e tecidos) e sementes (alimento). Mas foi só questão de tempo até que seus efeitos psicoativos fossem descobertos e utilizados.
O ponto de virada? Um achado arqueológico impressionante: em 2019, cientistas descobriram resíduos de cannabis com altos níveis de THC em queimadores de pedra, datados de 2.500 a.C., em um cemitério na cordilheira de Pamir, atual território do Tajiquistão. Essas pessoas, pertencentes à cultura Jirzankal, provavelmente inalavam a fumaça da planta durante rituais fúnebres e espirituais.
O que torna esse achado tão fascinante é o nível elevado de THC encontrado nos resíduos — indicando que os antigos já selecionavam e utilizavam plantas com maior potência psicoativa, e não apenas cânhamo industrial.
Esse uso ritualístico provavelmente buscava alterações de consciência, contato com o espiritual, ou mesmo alívio da dor e do sofrimento em cerimônias de morte e passagem. Ou seja: o “primeiro baseado” da história não era recreativo, mas transcendental e medicinal.
E mais: estudos de fitogenética mostram que a domesticação da cannabis ocorreu em múltiplas regiões ao mesmo tempo, com diferentes intenções — desde o uso psicoativo até a extração de óleo medicinal.
Muito antes da proibição e da propaganda contra a maconha no século XX, culturas antigas já reconheciam o potencial curativo, espiritual e social da planta. A cannabis não era vista como ameaça, mas como ferramenta.
E a ciência moderna tem resgatado isso: estudos contemporâneos sobre o sistema endocanabinoide — um conjunto de receptores espalhados por todo o corpo humano — mostram que já nascemos preparados para interagir com os compostos da cannabis. Nosso cérebro e nosso corpo têm afinidade natural com a planta.
Em outras palavras: não é exagero dizer que a relação entre cannabis e humanidade é biológica, histórica e espiritual.
O primeiro baseado da história pode ter sido aceso há milênios, mas o que ele acendeu mesmo foi uma longa jornada de descobertas. Hoje, enquanto a ciência estuda o THC, o CBD e dezenas de outros canabinoides, a gente apenas continua um ciclo que começou com nossos ancestrais, ao redor do fogo, inalando fumaça e se conectando com algo maior.